Porque fogos de artifício com barulho fazem mal a bebês, idosos, pessoas com autismo e animais
Não é frescura! Os fogos de artifício barulhentos são uma verdadeira tortura para algumas pessoas e também os animais. É por isso que quando se aproximam datas festivas onde há a tradição de utilizá-los, as campanhas para que todos possam fazer a opção pelos fogos sem estampido são reforçadas, inclusive pelo Ministério Público da Paraíba (MPPB). Idosos, crianças recém-nascidas, pessoas dentro do Espectro Autista e os pets são os que mais agradecem a quem entende esse chamado e respeita a sua condição.
O ClickPB sabe a importância da conscientização nestes casos e também reforça o pedido para o uso de fogos sem estampido. E, é abraçando essa ideia, que nossa reportagem procurou especialistas para explicar as consequências provocadas pelo barulho dos fogos de artifício em todos os grupos já citados.
Afinal, por que fogos de artifício com barulho são prejudiciais? O que eles causam nos idosos, recém-nascidos, pessoas com autismo e nos animais? Como evitar o barulho e como se proteger contra ele? As respostas para estas perguntas estão logo abaixo nesta reportagem do ClickPB.
Prejuízos para idosos
Imaginem a cena: está tudo tranquilo dentro de uma casa de idosos, eles estão quietinhos vivendo suas rotinas na mais plena paz e tranquilidade e, de repente, a explosão. Um barulho ensurdecedor e porque não dizer, enlouquecedor. O susto agita a todos e até coloca alguns em pânico. E são os que já apresentam algum tipo de demência, que é o declínio da capacidade cognitiva, que mais sofrem, como explica a psicóloga Eldia dos Santos Araújo, da Associação Promocional do Ancião Dr. João Meira de Menezes (Aspan) – que fica em João Pessoa.
“Eles se assustam! Muitas vezes ficam bem assustados, mesmo os que ainda estão orientados. Nos desorientados, os prejuízos são maiores, porque alguns têm delírio e alucinações, têm uma confusão mental, então eles pensam que é tiro ou alguém caindo, alguém querendo entrar na casa. Isso aumenta a desorientação, os delírios, as alucinações, o que não é bom para a saúde mental, piora o quadro demencial. Por isso, é importante não usar fogos com estampido. E, se mesmo assim houver, é importante ter sempre alguém perto para falar para o idoso o que está acontecendo. Mantê-lo no quarto também pode abafar o barulho”, esclareceu Eldia dos Santos.
A parte psicológica, contudo, não é a única a ser afetada pelo barulho dos fogos de artifício no caso dos idosos, como deixou claro a psicóloga em entrevista ao ClickPB. “Fisicamente a gente pode falar dos danos causados pelo excessivo barulho nos ouvidos. Os idosos passaram por muita coisa e o corpo, com o tempo, vai se deteriorando. Nosso ouvido fica mais sensível. Então, todo barulho excessivo pode prejudicar a saúde física deles”, ressaltou.
Sons geram crises em pessoas com autismo
O Transtorno do Espectro Autista (TAC) é outra condição da qual os fogos de artifício com barulho são verdadeiros inimigos. Em entrevista ao ClickPB, a assistente social da Associação Campinense de Pais de Autistas, Diana Aires, ressaltou que por conta da hipersensibilidade auditiva das pessoas dentro do Espectro, os estampidos podem provocar sérias crises, resultando em ações involuntárias como agressão ou autoagressão, crises de choro, dores, entre outras reações.
“Por isso, se torna tão importante a discussão e aquisição do uso de fogos sem estopim para que as pessoas dentro do Espectro possam participar de momentos de comemoração sem problemas maiores. De acordo com os estudos realizados até os dias atuais em pessoas com TEA, uma das características presentes é Transtorno de Sensibilidade Sensorial, ou seja, a reatividade aos estímulos sensoriais como o tato, olfato, paladar, visão, audição, para além do que espera-se de pessoas típicas. Sem dúvidas, um dos mais presentes é a sensibilidade auditiva, que é quando as pessoas com TEA se mostram desconfortáveis e/ou assustadas com barulhos altos”, pontuou Diana.
Em Campina Grande, como informou Diana Aires, há uma lei aprovada pela Câmara Municipal que proíbe o uso de fogos de artifício com barulho para festividades e comemorações que sejam de caráter público ou privado. A assistente social lembra que, apesar disso, a batalha ainda é longa porque precisa de conscientização entre as pessoas. Enquanto essa consciência não impera em 100% da população, os pais podem tomar algumas providências para que os seus filhos sofram menos prejuízos.
“Caso as famílias de pessoas com autismo residam em locais os quais ainda usem fogos com estampido, algumas medidas podem ser tomadas para que o impacto desses estímulos possa ser diminuído como: levar a pessoa, se possível, para um lugar mais tranquilo, de preferência silencioso, até a mesma se acalmar; explicar o porquê está acontecendo os fogos e os barulhos; explicar sobre o momento os quais os fogos estão acontecendo, caso seja alguma data comemorativa; explicar que as sensações são passageiras, através de fotos e vídeos, para que eles possam entender melhor o que está acontecendo, além , se for possível e previsível que vá ocorrer esse estouro de fogos, adiantar e dar previsibilidade, ou seja, informar a mesma que ocorrerá determinado som ou barulho, para que a mesma já fique preparada e consiga criar um ambiente de confiança e segurança”, elencou Diana Aires.
Recém-nascidos podem ter audição prejudicada
Os recém-nascidos também apresentam uma hipersensibilidade auditiva que pode ser muito prejudica pelo barulho dos fogos de artifício, como explica a diretora-técnica do Instituto Cândida Vargas, em João Pessoa, Juliana Soares.
Em conversa com o ClickPB, ela informou que o estampido provoca irritabilidade nos bebês e, com isso, também dificuldade de socialização com aumento do medo e estranhamento. O barulho provoca, ainda, quebra do sono, alteração do ritmo circadiano do bebê e dificuldade de concentração.
Nos bebês prematuros, então, as consequências podem ser ainda maiores, como destaca Juliana Soares. “Os bebês prematuros têm uma sensibilidade exacerbada e exagerada, porque todos os reflexos e desenvolvimentos neurológico estão ainda amadurecendo fora da barriga. Isso quer dizer que o risco de prejudicar a audição e outros reflexos é muito mais fácil de acontecer no prematuro”, enfatizou.
A diretora técnica do ICV, Juliana Soares, deu algumas dicas aos pais que não vão conseguir escapar dos estampidos dos fogos de artifício neste fim de ano. “Tem uns abafadores sonoros que podem ser usados. Músicas relaxantes em ambientes fechados podem ser estratégicos para diminuir o barulho daqueles que estão protegidos por nós”, destacou.
Pets também são sensíveis e podem se desesperar
Os tutores dos animais que já enfrentaram o barulho dos fogos de artifício sabem o quanto o estampido tem o poder de provocar desespero no pets, porque eles também tem hipersensibilidade auditiva. Então, o que pode ser um ruído simples para você, pode ser um barulho insuportável para eles! O uso dos fogos silenciosos ajudam a não despertar esse desespero neles, como alerta Andreia Medeiros, da ONG Missão Patinhas Felizes, em entrevista ao ClickPB. Ela conta a própria experiência para mostrar os prejuízos causados aos bichinhos.
“Já tive uma péssima experiência em relação a isso. Quando o abrigo era em Camboinha, o prefeito de Cabedelo Vitor Hugo utilizou fogos de artifício silenciosos, porém os turistas soltaram fogos barulhentos e os meus animais ficaram em desespero. Precisa haver uma fiscalização nesse sentido e propagandas de conscientização da população”, desabafou.
Diante da experiência, Andreia Medeiros disse, ao ClickPB, que é preciso alguns cuidados com os animais e, talvez, até algumas renúncias dos tutores. “Indico deixar seus animais dentro de casa, já que o barulho ficará menor. Também em farmácias de manipulação pets há biscoitos a base de passiflora e outros ingredientes naturais como calmantes, para serem administrados em seus pets. No meu caso, há 9 anos não tenho Réveillon, para ficar com os animais. Como tenho muitos, o medo que aconteça algum acidente só me permite sair para socializar após o estouro dos fogos”, contou.