Faturar é Diferente de Lucrar: Os Perigos do Negócio Sem Planejamento
É normal ouvir empreendedores dizerem: “Esse mês eu vendi bem, mas não sei para onde foi o dinheiro.” Isso acontece porque, no dia a dia corrido, muitos confundem faturamento com lucro. Pensam que vender muito significa ter dinheiro sobrando, mas dinheiro no caixa não significa efetivamente dinheiro no seu bolso. Dependendo do segmento de atuação, apenas 30% do que é faturado realmente pertence ao empresário.
A remuneração do dono é chamada de pró-labore, e nem todos conhecem esse termo ou o que ele significa. Na contabilidade, o Princípio da Identidade estabelece que a empresa é um ente distinto da pessoa física do dono. Essa separação é justamente o que garante a independência da empresa. Por isso, cabe ao empreendedor gerenciá-la corretamente e, ao mesmo tempo, se remunerar como qualquer outro funcionário.
Um erro grave e bastante comum de quem está começando, por exemplo, é não ter conta bancária separada para o negócio, misturando o que é pessoal e o que é da empresa. Esse amadorismo costuma cobrar um preço alto nas finanças de ambos: empresa e dono.
Pior ainda, alguns empreendedores, ao ver o dinheiro circular com mais frequência, se deixam levar pelo deslumbramento e passam a gastar como se tudo fosse uma recompensa merecida por seu esforço. Quase sempre isso termina em falência e muitas dívidas.
Daí a importância da mentalidade empreendedora: ela é quem contém os impulsos e evita decisões baseadas apenas na excitação do momento. De acordo com Morgan Housel, no livro A Psicologia Financeira, o sucesso financeiro está mais ligado ao comportamento do que à inteligência. Ele conta o caso de um executivo milionário que perdeu tudo por agir de forma arrogante e impulsiva. Housel afirma que esse comportamento só pode ser mantido por pouco tempo.
A lição é clara: uma pessoa, por mais inteligente que seja, se não souber controlar suas emoções e hábitos, pode se tornar um fiasco financeiro. Em contrapartida, pessoas sem formação técnica extensa conseguem acumular riqueza quando cultivam hábitos comportamentais simples: controle emocional, disciplina e a capacidade de separar o que é do negócio e o que é pessoal.
Essa lógica se encaixa perfeitamente na vida do pequeno empresário que vê o dinheiro entrar, mas não consegue fazê-lo ficar. O problema não é só o fluxo de caixa; é a mentalidade. É o comportamento.
*Antonio Filho é graduado em Ciências Contábeis e pós-graduado em Jornalismo. Autor do livro Conexões que Transformam: Lições de Empreendedorismo, Marketing e Comunicação, vencedor do Prêmio Destaque pelo coletivo de autores Espaço Leia Mais, na Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro 2025.





