Crescer Devagar Também é Estratégia

Estamos vivendo um tempo em que a obsessão pela velocidade às vezes se transforma em frustração. “Escalar rápido”, “crescer exponencialmente” e “ganhar o mercado antes que alguém chegue primeiro” são expressões comuns, consagradas em livros, cursos e nas redes sociais. Mas, para a maioria dos empreendedores, especialmente nos estágios iniciais, com poucos recursos, crescer devagar não é fracasso: é inteligência estratégica.

Eric Ries, em A Startup Enxuta, defende que, em contextos de incerteza extrema, o crescimento acelerado pode ser um risco grave. Crescer antes da hora, sem um produto validado, sem cliente compreendido, sem processo amadurecido, é desperdiçar energia e dinheiro. Ele propõe um modelo diferente: aprender antes de escalar.

A ideia central é simples, mas poderosa: construir, medir e aprender. Em vez de tentar acertar tudo de primeira, o empreendedor lança uma versão básica experimental, observa o comportamento do cliente e mensura os resultados obtidos. A esse processo ele dá o nome de aprendizagem validada: não se trata de justificar erros com boas histórias, mas de extrair verdades úteis sobre o negócio que está nascendo.

Esse tipo de aprendizado, mesmo que aconteça de forma lenta, gera consistência. E é essa consistência: mais do que a velocidade, que sustenta empresas sólidas no longo prazo.

Essa ideia ecoa na jornada de Luíza, lembra da personagem do livro O Segredo de Luíza? Ela não começa com tudo pronto, nem com planos mirabolantes de expansão. Parte de algo pequeno, com planejamento, escuta primeiro para ajustar o modelo de negócio. Luíza cresce de forma progressiva, mas cresce forte, e com sentido e objetivos.

Expansão saudável

A visão de José Dornelas, em Empreendedorismo: Transformando Ideias em Negócios, vai também nesse sentido: a expansão de um negócio saudável deve estar alinhada à capacidade de entrega, à gestão do dinheiro e ao grau de maturidade do empreendedor.

Crescer rápido demais pode gerar problemas reais: perda de qualidade e desgaste de reputação, especialmente em mercados menores, onde cada cliente conta. Crescer devagar, por outro lado, permite tempo para organizar processos, testar canais, formar equipe com cuidado, fidelizar os primeiros clientes e, acima de tudo, compreender profundamente o próprio negócio.

*Antonio Filho é graduado em Ciências Contábeis e pós-graduado em Jornalismo. Autor do livro Conexões que Transformam: Lições de Empreendedorismo, Marketing e Comunicação, vencedor do Prêmio Destaque pelo coletivo de autores Espaço Leia Mais, na Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro 2025.