Empreender por Necessidade: o Preço da Falta de Planejamento

30 set 2025 - Notícias

No Brasil, as pessoas geralmente empreendem por necessidade e não com base em planejamento sólido ou análise de mercado. Ao contrário daqueles que contratam as melhores assessorias, realizam pesquisas qualitativas, estudos de viabilidade econômica e outras métricas essenciais, o empreendedor médio brasileiro age por empirismo e torce para ter sorte.

Assim, precisa lidar com os reveses quase sempre de forma emergencial: são os boletos que chegam antes das vendas, os produtos parados no estoque, o clima que não colaborou, os clientes que não apareceram. Enfim, situações inesperadas que surgem inevitavelmente quando se empreende dessa forma. E será que havia escolha?

Para quem perdeu o emprego, empreender pode ser uma “tábua de salvação”. Outros sequer conseguem oportunidades no mercado formal, e alguns querem simplesmente ser donos das próprias decisões e do próprio destino. Essas pessoas raramente têm tempo para planejar ou estudar empreendedorismo e desenvolver uma mentalidade adequada.

Contudo, não existe romantismo no universo dos negócios: ou o empreendedor aprende a criar a mentalidade adequada durante a jornada, ou estará correndo o risco de entrar nas estatísticas do SEBRAE sobre a mortalidade precoce das empresas.

Muito mais do que estatísticas

José Dornelas, em seu livro Empreendedorismo: transformando ideias em negócios, chama atenção para os dados do SEBRAE sobre a taxa de sobrevivência das empresas no Brasil. Segundo levantamento do órgão, que constava em julho de 2025 em seu sítio oficial, os Microempreendedores Individuais (MEIs) apresentam a maior taxa de mortalidade entre os pequenos negócios: 29% encerram as atividades em até cinco anos. As Microempresas (MEs) têm taxa intermediária, com 21,6%. Já as Empresas de Pequeno Porte (EPPs) registram o menor índice: 17%.

Esses números demonstram claramente que, quanto maior o nível de estrutura e planejamento, maiores são as chances de sobrevivência no mercado. E, evidentemente, a maioria dos pequenos negócios raramente possui esses requisitos.

Por que tantos fracassam?

Ainda conforme o SEBRAE, 80% dos empreendedores que fecharam seus negócios nos últimos anos apresentavam características semelhantes que explicam essa alta taxa de mortalidade. A grande maioria estava sem um emprego formal antes de abrir a empresa, o que indica que a iniciativa ocorreu por necessidade e não por oportunidade estruturada. Muitos deles não tinham conhecimento suficiente sobre o setor escolhido, comprometendo a tomada de decisões estratégicas.

Outro fator bastante comum foi superestimar uma demanda inicial, bem como a falta de um plano de continuidade ou diferenciação. Grande parte desses empresários desconhecia aspectos básicos da gestão, como controle financeiro, marketing e atendimento ao cliente.

Esses empreendedores tinham, ainda, menos acesso ao crédito bancário e, frequentemente, mostravam-se pouco dispostos a melhorar, inovar ou se capacitar em seu ramo. Essa falta de preparo compromete diretamente a resiliência dos negócios.

Por fim, quase metade das empresas que encerraram as atividades em 2020 indicou a pandemia como fator determinante, evidenciando que, em tempos de crise, quem detém menos estrutura, conhecimento e planejamento fica mais vulnerável.

Esses números são mais que estatísticas: eles trazem uma mensagem dura e, ao mesmo tempo, uma oportunidade. A sobrevivência empresarial não depende apenas de manter um negócio aberto, mas da capacidade do empreendedor em aprender, aceitar desafios e se adaptar continuamente.

Na primeira edição do Conexões que Transformam, abordamos de forma bastante consistente as características essenciais que todo empreendedor precisa ter, como proatividade e resiliência. Se essas qualidades não eliminam completamente o risco de fracasso, ao menos garantem melhores condições de enfrentar e gerir problemas.

Se algo pode diferenciar a empresa que fecha as portas daquela que permanece de pé não é somente o faturamento: é a mentalidade com que o empreendedor encara a si mesmo. Portanto, antes de abrir um negócio, abra a mente.

*Antonio Filho é graduado em Ciências Contábeis e pós-graduado em Jornalismo. Autor do livro Conexões que Transformam: Lições de Empreendedorismo, Marketing e Comunicação, vencedor do Prêmio Destaque pelo coletivo de autores Espaço Leia Mais, na Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro 2025.